quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CARTAS ARGUMENTATIVAS


Antes de visualizarmos os modelos, é importante sabermos em que reside a diferença entre carta-argumentativa e artigo de opinião. Se ambos os textos são de cunho dissertativo-argumentativo, têm bastantes elementos semelhantes. Ambos trabalham com base na opinião de seu autor, mas são gêneros específicos. Aliás, o termo gênero textual refere-se à situação comunicativa, isto é, a quando usar a carta e quando usar o artigo.
A carta-argumentativa caracteriza-se por ser uma correspondência com um leitor definido, específico, em oposição ao artigo, que é produzido sempre se pensando num leitor geral, num conjunto de pessoas geralmente desconhecidas.
A dificuldade dos alunos se apresentam, muitas vezes, em levar isso para o papel. Inúmeros são os casos em que a estrutura é de carta, mas o texto é de artigo como, por exemplo, o texto a seguir:


Currais Novos/RN, 11 de setembro de 2008

Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação,

Ao analisarmos os diversos problemas enfrentados pelos brasileiros, percebemos que a educação apresenta-se como um dos mais graves. Apesar da queda do analfabetismo na última década, ainda assumimos uma posição vergonhosa no “ranking” latino-americano.
Essa questão torna-se complexa, pois está relacionada a diversos problemas nacionais como a desigualdade na distribuição de renda, a exploração do trabalho infantil, dificuldades no acesso às escolas, exploração sexual de crianças e adolescentes, perfazendo um conjunto de tristes realidades, que separam cada vez mais, as famílias em situação de vulnerabilidade social do sistema regular de ensino.
As deficiências no processo de ensino-aprendizagem também merecem atenção, principalmente nos primeiros anos escolares. Metodologias de ensino inadequadas, carências de recursos humanos e materiais, péssimo sistema de transporte escolar, além de baixos salários, são elementos importantes que contribuem para a evasão escolar e para a má qualidade do serviço prestado.
Diante de tal situação, precisamos, ainda, percorrer um árduo caminho para que possamos ter um país que veja a educação com a seriedade merecida. Sendo assim, a valorização do magistério, a informatização das escolas, a capacitação profissional, além de um melhor planejamento dos recursos aparecem como estratégias importantes, para transformar o Sistema Educacional em um serviço eficiente e eficaz.

Atenciosamente,

Educalson Brasileiro

Apesar de a formatação ser de carta, não se tem a referência ao destinatário dentro do texto. Expressões como "Vossa Excelência", "Senhor Ministro", ou até mesmo o uso de primeira pessoa do singular dariam ao texto essa indicação. São elementos detalhísticos que denunciam o gênero da carta e que muitas vezes não são considerados pelos alunos. Nesse texto, abordam-se os problemas relacionados à educação, mas de forma muito distante, como se não se fizesse referência específica. Vejamos, para se ter um caráter maior de carta, como ficariam alguns trechos do texto acima:

Ao analisarmos os diversos problemas enfrentados pelos brasileiros, percebemos que a educação apresenta-se como um dos mais graves. Apesar da queda do analfabetismo na última década, ainda assumimos uma posição vergonhosa no “ranking” latino-americano, conforme tomei conhecimento através da imprensa escrita, radiofônica e televisada.

Percebam que o simples fato de se utilizar um verbo em primeira pessoa caracteriza melhor o gênero carta. Assim como em outros pontos:
Diante de tal situação, Excelentíssimo Ministro, entendo que precisamos, ainda, percorrer um árduo caminho para que possamos ter um país que veja a educação com a seriedade merecida. Sendo assim, a valorização do magistério, a informatização das escolas, a capacitação profissional, além de um melhor planejamento dos recursos aparecem como estratégias importantes, para transformar o Sistema Educacional em um serviço eficiente e eficaz.
Como cidadão, espero que o Senhor, como representante maior da Educação Nacional, mobilize os órgãos competentes, principalmente a Presidência da República, para que estas e outras sugestões venham a concretizar-se. Confio na sua competência, mas muito mais no seu bom senso, para que a nossa realidade passe a fazer parte de estatísticas bem diferentes.

As indicações em negrito oferecem ao texto anterior um diferencial a fim de que se possa discriminar melhor a carta, dando-lhe características próprias, distinguindo-a do artigo de opinião.

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